Por toda a parte nota-se alto grau de estresse nas pessoas, disseminado discurso de terra arrasada, desencanto, generalização de críticas amargas e complexo de inferioridade como nação. O que está acontecendo com o brasileiro?
Certamente a história nos mostra que somos um coletivo de extremos: euforias e ressacas, excessos de autoconfiança alternando com crises de depressão comunitária. Já fomos o Brasil potência, acreditamos em alguns milagres econômicos, estufamos o peito para sediar copa do mundo e olimpíada em curta sequência de dois anos. Mas, também já nos achamos, como hoje, os piores do mundo, mais corruptos e menos competentes.
A realidade não está no topo da montanha do orgulho nacional nem nas profundezas do vale das lamentações: somos povo, país, instituições, elites com virtudes e limitações, construindo caminhos, acertando e errando, nem os melhores nem os piores. Os períodos de ufanismos e os de depressão, como o atual, deixam marcas e heranças, sobretudo nos impedem de ter a adequada e ponderada autocrítica que busque corrigir insuficiências, punir desvios, sem desdenhar o nosso potencial ou deixar de valorizar nossas virtudes.
Momentos em que se somam problemas coletivos, angústias individuais, respingos de crise econômica na vida cotidiana e massiva prioridade midiática para temas como violência, corrupção e desmandos, deixam o brasileiro à beira de um ataque de nervos, pessoal e coletivo.
No trânsito, nas rodas de convívio, nos ambientes compartilhados, diariamente, a gente sente esse estresse dos indivíduos e dos grupos sociais. Nos últimos dias, presenciei desvarios chocantes na rua, na barbearia, no mercado, na lotérica. Conto este para exemplificar: lotérica lotada de pessoas para pagar contas, fazer transações bancárias ou apenas apostar, sistema informatizado dando pane e empacando a vida de todos. Ora funciona, ora cai. Muitos incomodados, uma senhora tem surto e acusa as atendentes de estarem de propósito inviabilizando as operações. Agride com palavras as coitadas das funcionárias que tudo fazem para bem atender. E logo descamba para os "políticos" e a roubalheira (os exaltados discursos sempre terminam assim). Era um problema técnico na rede de informática, virou agressivo ataque às trabalhadoras que nada podiam fazer e daí para o caótico e generalizado diagnóstico do país perdido e avacalhado.
Menos, minha gente! Não somos os piores do mundo, nem temos as mais precárias instituições ou os agentes mais corruptos. Há problemas, sim. Precisamos corrigir rumos e erros. Já fizemos muito como povo e nação e bem mais poderemos construir. É justa a indignação diante de desvios ou de injustiças, todavia precisamos complementá-la com disposição de diálogo, busca de soluções, convívio harmônico em sociedade, busca de construção. As condutas desvairadas não levam a soluções, pelo contrário realimentam erros, violência, cegueira coletiva, dificuldade em encontrar saídas.